terça-feira, 23 de julho de 2013

Na boa

O termo "boa" significa a última viagem do dia para  os motoristas de ônibus metropolitanos. Mas não  preciso  perguntar se a viagem é a boa ou não, basta sentir a lei da  inércia imprimida  pelos motoristas aos passageiros.

Por infelicidade do destino, minha casa fica num vale. O  acesso a ele se dá  por uma avenida ingrime que impõe, sem a ajuda do motor, uma velocidade significativa aos ônibus. Na "boa", os motoristas estão ansiosos por chegar na garagem e usam e abusam da gravidade. Não  é por menos, pois são mais de dez horas enfrentando  o trânsito de São Paulo.

E é  na boa em que o usuário  tem de ficar atento para não incorrer em imprudência dentro do transporte. São nesses momentos que os músculos se prendem nos balaústre para que vença a inércia.




quarta-feira, 17 de julho de 2013

Catraca livre para o estudante pobre

Na década de 80, os deficientes físicos tinham autorização para descer e subir do ônibus pela porta  da frente entretanto deviam pagar a passagem.

Para obter a autorização, tínhamos que ir a CMTC na Rua Santa Rita no Pari e levar um monte de documentos para obter o cartão verde com um carimbo vermelho dizendo "Obrigatório o Pagamento da Passagem".

Aos 8 anos, quando comecei a usar o transporte sozinho, estudava na Saúde e usava um ônibus para chegar lá. Minha mãe não podia me levar pois meu irmão, ainda bebê, necessitava de cuidados. Éramos pobres. O salário de encanador de meu pai e de manicure de minha mãe mal dava para ter o que comer e, portanto, não tinha como pagar minha passagem. Podia ter estudado numa escola pública  em frente de casa, mas o ensino público já dava sinais de precariedade. Apesar de ser tachada de irresponsável por me deixar em transporte público sozinho, minha mãe preferiu colocar-me em uma escola particular onde teria  uma bolsa de estudo.

No ônibus passava a viagem toda tomando coragem em pedir  para descer do ônibus sem paga. Muitos motoristas constrangeram-me pelo fato. Com tempo, percebi que tinha dois motoristas da qual não chamava minha atenção. Esperava o tempo que fosse para entrar no carro em que eles guiavam. Passaram 30 anos desses sinais de humanidade e nem sei se eles ainda  estão vivos, porém agradeço a eles pois consegui completar minha boa educação básica graças as  suas relevâncias.

Hoje vivemos um momento melhor. O deficiente tem isenção no pagamento da passagem o que permite a uma maior locomoção. Eu, nos tempos atuais, não passaria por esse constrangimento.

Mas o aluno pobre ainda sofre em obter educação não tendo fundos para o seu transporte. Penso que não deveria ter empecilhos para o jovem frequentar uma boa escola. É lamentável um bom estudante ter de parar seus estudos pois não tem condições para seu transporte. O aluno perde por não obter uma educação melhor, a família perde  por não ter um exemplo que possa mudar a realidade dela, a cidade perde por não ter um cidadão educado que fará a cidade melhor nos cantos mais esquecidos dela e o país perde pois elimina a possibilidade de formar um concidadão que possa contribuir pelo crescimento da nação.




sábado, 13 de julho de 2013

Vagas especiais, usá-las ou não a usar?

Num final de tarde de um belo sábado, chegando a um McDonald e estando bem acompanhado, paro o carro em uma vagas não destinadas a deficientes.

Minha companheira indaga-me:

- Você vai parar nessa  vaga? Você não deveria estacionar nessa vaga pois ela não é destinada a ti.

Eu respondo:

- Estou parando nessa pra deixar a vaga de deficiente a outro que possa vir ao restaurante.

Ela contrariada de sua ideia passou parte do tempo  no restaurante tentando me convencer de que estava equivocado em minha decisão.

Tanto as vagas de estacionamentos quanto aos assentos em transporte público, fazem falta a qualquer deficiente que esteja presente ao local. Usá-las quando houver outras vagas acessíveis é tirá-las dos que poderiam usar no futuro.

Portanto, minha resposta a pergunta do título é: Não a usar quando as vagas não reservadas estiverem acessíveis.  


O estado grave das grávidas

Muitos de meus leitores cumprimentaram pela minha iniciativa do blog e  relataram algumas dificuldades que passaram. Um desses relatos foi  as dificuldades enfrentadas  por uma amiga quando estava grávida de uma das suas duas lindas filhas. Desse relato escrevo essa reflexão.

Por observação percebo que a gravidez é uma fase especial na vida da mulher. Não seria capaz de dizer o quanto é importante, mas fica evidente que há mudanças no corpo, na alma e nos hábitos da mulher.

Uma dessas mudanças no corpo é ter o feto pressionando a bexiga. Assim, há uma diminuição do volume de líquido armazenado por ela. Como resultado, há uma mudança de hábito manifestada em ir constantemente ao banheiro.

Esse cenário provoca tormentos no cotidiano da grávida como ir ao shopping ou ao cinema. Não pela acessibilidade para a grávida nesses lugares, mas pelo uso urgente dos banheiros públicos.

É uma falta de compaixão imensa mulheres não cederem lugares em filas no banheiro feminino. Infelizmente existem esse tipo de pessoas e não entendo esse comportamento perverso.

Do mesmo modo, não entendo o porquê dos estabelecimentos não orientarem seus funcionários a permitir o uso pelas grávidas dos banheiros reservados para deficientes físicos.

Temos muito ainda para chegarmos algo próximo do que seja civilizado para as gerações que estão por vir.

 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A estação de trem de Santo André: feita para não humanos

Um dos possíveis caminhos nas quais posso chegar ao meu trabalho é utilizar a estação de Santo André.

Pertencente a linha 10 - Turquesa da CPTM, liga o centro de São Paulo e o centro de Santo André. Duas cidades que impulsionaram o desenvolvimento industrial nacional com a industria de transporte.

Em sua página na internet, a CPTM informa que há acessibilidade,
Rede CPTM - Santo André

É, no mínimo, desonesto informar que a rampa descoberta de 200m que liga as plataformas e as saídas seja de fato algo um exemplo de acessibilidade.

Peço aos leitores desse blog, quando estiverem passando por essa estação, façam um exercício metal de entrar ou sair dela sem passar por escadas.  Certamente vocês irão ver soluções mas essas não são imediatas.

Fundada em 1867, as fotos antigas indicam que houve um regresso pois seria possível um cadeirante se deslocar de uma plataforma a outra com maior facilidade. O que, de fato, não significa que esse ato fosse feito em segurança.





quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os micro-ônibus e vans, socorro!

Numa cidade tão grande, tão rica e tão exuberante, como podemos aceitar a existência de um transporte como o micro-ônibus ou van fornecido pelas cooperativas?

De minha casa até a estação do metrô devo pegar, semanalmente, um micro-ônibus administrado por cooperativas cuja linha fora cedida pela prefeitura.

Tentarei descrever abaixo algo que aproxima do inferno da viagem no ponto de vista de quem tem mobilidade reduzida.

A começar pela porta de entrada desse transporte. Diferente do ônibus em que há uma barra de sustentação na qual pode ser usado como apoio para o primeiro e importante passo, não há essa barra fazendo com que ele seja inseguro e desconfortável.

Passado os primeiros passos, vem a falta de estabilidade quando da partida do veículo. Não há balaústres suficientes para ter sustentação quando da partida. Por sorte, pode-se segurar na barra usada, geralmente e indevidamente, como assento do cobrador.

Certo de estar seguro entre as possíveis freadas que o motorista dará, vem a falta de compreensão dos usuários que, na falta de assentos para deficientes, ocupam o habitáculo próximo ao motorista. Esse espaço tem de ser destinado aos que possuem problemas de locomoção. Se o transporte estiver cheio, deveriam ter o bom senso em passar a catraca deixando-o livre para os necessitados de dois ou mais pontos de estabilidade. Dessa forma, permitiria ao deficiente uma viagem sem percalços.

Muitos cobradores exigem passar o bilhete de deficiente antes de descer, mas há uma falta de sensibilidade em perceber que em determinadas circunstâncias não é possível abrir mão do balaústre para passar o cartão na máquina. Isso, pois ela se localiza numa posição desconfortável em que não há  barra para o devido apoio. Muitas vezes a pilastra de sustentação da máquina é o único apoio possível.

Aliás, a pilastra de sustentação da máquina é um dos apoios mais procurados. Porém, utilizar-se dela torna a viagem desgastante pois, caso use-a, os outros usuários irão o incomodar procurando passar o cartão.

Finalmente, o que torna a viagem um verdadeiro inferno: o motorista. Não é possível que permitimos pessoas grossas e mal-educadas exercerem uma função de atendimento ao público. Se ao menos eles percebessem o quanto é constrangedor cair diante de todos devido a uma manobra imprudente ou uma freada inconsequente. Talvez, assim eles repensassem o que é chegar cinco minutos depois no ponto final da linha.